domingo, 2 de junho de 2019

TRANSFORMANDO O FUTURO EM NEGÓCIO LUCRATIVO - Glen Hiemstra

Interessante notar como os apontamentos estão por toda parte. Nesta manhã, por surpresa minha, abri uma agenda de 2014, com muitas páginas em branco, entretanto muitas referências de leituras, os quais passo a colocar neste espaço.

A data da aquisição do livro e alguns dados iniciais, remetem-me a março de 2016, quando deslocávamos para aulas em Limeira. Sempre em nossos horários de espera, a livraria era nosso ponto de parada, donde jamais dali saímos sem livros na bolsa.

Tudo me convidava a leitura, o título, o livro volumoso, sua capa, o autor e sua proposta.

A orelha já me oferecia pistas:

_"... o planejamento a curto prazo é em geral muito mais eficiente quando se baseia em uma visão do futuro a longo prazo, em vez de uma tentativa de conseguir um lucro rápido ou uma participação de mercado instantânea."   

Consultor futurista, orienta no sentido de que podemos moldar o futuro hoje, através de estratégias corretas.

_"O futuro cria o presente. O futuro cria receita".

Ademais, abstraio palavras da tradutora, Claudia Gerpe Duarte:

"O que desperta nosso entusiasmo? Qual é o meu motivador econômico? Em que podemos ser os melhores no mundo?"

Do texto percebo algumas colocações que as toma para mim:

Talento ou Aptidão ......... Entusiasmo ...... Motivação

Faço um parêntesis aqui nas palavras, e, sob meu ponto de vista, percebo que pode acontecer:


  • Talento      _ Estar lento
  • Aptidão      _ Estar apto, preparado 
  • Entusiasmo _ Estar encorajado, estimulado
  • Motivação   _ Ter um motivo para uma ação
E percorro suas linhas e abstraio mais fontes. "Olhar para o futuro antes de  fazer um plano"; expandir, visualizar, planejar. Adquirir conhecimento é o que conta no século XXI, assim como a eficiência, eficácia, agilidade.  


continua



quarta-feira, 1 de maio de 2019

USANDO SUA MENTE - Richard Bandler

por Inajá Martins de Almeida 

Meus cadernos de anotações clamaram presença. Distante tempo razoável - perda imensurável - suas linhas, retornam-me.


A data me remete a 2018, quando o livro fora encontrado num ponto de descarte. Élvio sempre atento aos tais procurava-os em locais, os menos prováveis, para encontrá-los, entretanto, lá estava este que por algum tempo fizera parte de acervo estagnado ante o interesse de nossas leituras, até que... 

Sempre há momento em que o título nos remete ao seu conteúdo. Afinal, como estamos usando nossa mente? Estaríamos aproveitando nosso potencial? Bom! Não vou querer escrever compêndio sobre meu ponto de vista ao livro, apenas apontar tópicos e experienciar o que a leitura me proporcionou quando do primeiro estudo e neste em que trago meus apontamentos ao blog.


Encontrávamos num local também o menos favorável para leitura e estudo. Élvio internado em estado grave - até então não imaginávamos, contudo, o grau e o que o acometia – sua pouca fala reagia a minha e pedia que lesse para ele _ "tua voz me é agradável", dizia-me. 


Acostumados aos colóquios entre leituras várias, nossas manhãs avançavam em diálogos competitivos a prolongar nossa convivência, aquela que hoje me remete ao vazio profundo deixado pela ausência que o tempo marca em duzentos e vinte e sete dias (15/09/2018 / 01/05/2019), momento em que escrevo. 


Quando estamos num hospital, o tempo estanca. Horas intermináveis entre o cuidar, zelar pelo ente prostrado, inerte, passivo; visitas inesperadas de médicos, enfermeiros, amigos e até curiosos em saber quem está ali, o que tem e assim vai. Não se percebe dia ou noite. Janelas entreabertas dão dimensão difusa da realidade fora das paredes frias e sombrias entre corredores que cortam o ambiente. Situações que se irmanam num pequeno espaço que abriga tanta dor e sofrimento - ali cinco leitos, cadeiras duras para os acompanhantes. Uns a chegar, outros a partir, outros ainda a não retornar - círculo que se finda na ciranda da existência.


Dias que se prolongam. A saudade da casa, dos animais que permanecem sem entender a ausência. A distância entre a chegada (14/08/2018) e a alta hospitalar (31/08/2018); a doença que se agiganta para o derradeiro final, sem que o quiséssemos entender. Estávamos tão próximos do desenlace, mas não atentávamos para ele, almejando o milagre da vida, da permanência em dias os quais não aceitávamos abreviar. Um quarto em UTI, num hospital distante em quilômetros ainda nos seria reservado. Distanciamento entre a chegada numa rodoviária, repleta de expectativas anos antes, a uma notícia inesperada dentro de um ônibus que almejava um reencontro feliz. O óbito fora a tônica naquele percurso interrompido abruptamente. Não havia mais nada que pudesse almejar e fazer. Estava consumado. 


Eis que o capítulo VI - Entendendo a confusão - instiga-me à compreensão, quando o autor direciona a esta e numa afirmativa nos remete ao tema:


_ "Como transformar a confusão em compreensão"?


Era tudo o que almejara naquele momento, entender o porquê daquela situação inesperada a nos acometer. O porquê aquela doença chegara, sorrateira, e em breve abreviaria um corpo que, até então, saudável. 


As células desorganizadas do sangue minavam toda a corrente sanguínea, ao ponto de os médicos não encontrarem o tratamento adequado. Estava ali um quadro de uma situação "oportunista", em que as células boas eram invadidas pelas doentes.  


E retomo meu estudo. 


Bibliotecária e Documentalista acostumei-me aos dados, organizados sistematicamente; fichas catalográficas reuniam unitermos e compunham o catálogo de assunto. Hoje o computador arregimenta dados, decodifica-os e em poucos segundos torna compreensível informações requeridas. Planilhas passam por mãos hábeis de bibliotecários ou documentalistas em linguagem informacional virtual disponível dentro de nossos lares, graças à engenhosidade de se trazer perto o que antes tínhamos de percorrer distâncias. 

Naquele momento, de posse da leitura e da situação que se apresentava, percebi o quanto a ciência avançara, a tecnologia abreviara distâncias, a comunicação informacional proporcionava encontros virtuais em tempo real, mas ali um homem clamava por tempo precioso que a cada segundo parecia se distanciar da existência que até então conhecíamos.


Meu companheiro minava a cada instante. Doze anos, apenas, não teria sido suficiente para uma jornada; almejávamos outros tantos e, na minha mente, insuficiente para o tanto de envolvimento entre livros, falas e companheirismo. Percebo hoje, ao declinar estas linhas, que todos somos insubstituíveis, a despeito do que diz a organização fria de nossos dias. 


Um patrimônio que se formara nesses últimos anos, jamais seria reconstituído, a não ser pelas linhas que viessem resgatá-lo. Entretanto, sua totalidade, impossível. Teríamos de fazer a jornada da volta, desta vez, entretanto, não a dois, mais a uma, o que a memória jamais seria capaz de registrar em detalhes, ou fotografar - tornar real o que se tornou virtual.    


Entre os parêntesis que me permito neste momento em que escrevo, recorro aos apontamentos naquele dia 19 de agosto de 2018, quando esquematizava a fala do autor:


_ "A confusão pressupõe que a pessoa já possua todos os dados, mas não organizados de forma que lhe permita entendê-los".
(pág.95)



Decorridos meses do desenlace, ao retornar o ponto em que me vi confusa, ante ao fato inesperado, passei a recolher os dados desorganizados e, mediante a orientação que o texto me direcionava, passei a me reorganizar; a partir daquele momento, minhas manhãs não teriam mais o sabor do cafezinho na cama, regado a pãozinho com manteiga. As leituras seriam silenciosas, como silencioso o espaço se tornara. A contragosto aos poucos me recomponho a novidade da vida solitária, apenas tendo por companhia meus animais - dois gatos e uma cadela, uma vez que dois deles também partiram nesse ínterim (Tutti, meu poodle de 12 anos incompletos e a Gatusha, a gata com seus onze anos). 

- "A confusão é a oportunidade para se redispor a experiência, organizando-a de uma forma diferente da habitual". (pág. 106)

A formatação do livro nos remete a nove capítulos de uma Programação Neurolinguística que nos faz detentores de transformações em nosso modo de perceber as situações que nos envolvem no cotidiano da existência.

De todos os pontos apontados pelo autor, o que levou-me a pontuar, fora o fato de estar vivenciando uma situação a qual não tinha ideia de como seria o desenrolar dos fatos e, muito menos, como me comportaria dias e meses após.

Neste instante em que escrevo, as imagens vão se distanciando, como o diapositivo que se apresentou em exemplo e posso me recompor e me apresentar como personagem no filme que protagonizo nos dias que seguem, não que o quisera deste modo, todavia é o que tenho como expressão nesta conjectura. 

Retomar a leitura transportou-me aqueles dias em que as dificuldades eram tantas, que uma névoa cinzenta cobria qualquer prerrogativa de continuidade de propósito, mas a oportunidade para se enxergar um novo horizonte, que aos poucos pudesse aclarar a jornada a ser empreendida, também estavam imbuídas no contexto das linhas que seguiam em cada capítulo que se percorria.

E, mediante o ato de ler que não se apartou de mim, pude entender que retomar ao ponto em que nos separamos do nosso ponto de apoio, da nossa zona de conforto, faz com que olhemos adiante através de uma lente que nos proporciona avançar cada dia mais em busca do que almejamos ser. 

Uma lente que aumenta a medida que nos distanciamos das mazelas e passamos a interpretar como oportunidades, para que novas vistas sejam incorporadas às vistas de um diapositivo, uma vez que não podemos alterar o curso de um acontecimento que, provavelmente, irreparável.  

Porque, como nos orienta o autor, a mim em especial que tomo emprestadas suas falas, retomo minhas atividades diárias, agora com mais ênfase, objetivos e propósitos entre meus afazeres, aqueles que os tenho por fazer ... 

"_ Se a pessoa não for capaz de entender a sua própria experiência, de alguma forma, estará em palpos de aranha... A compreensão é um processo vital para a sobrevivência e o aprendizado". (pág.105)

E, ao transpor ao papel aqueles momentos passados, as palavras que me encontram, transformam a vivência daqueles instantes - até momentos de terror - em expectativas para um porvir repleto de esperança num renovo, possível apenas mediante a compreensão de que a vida requer ser vivida em sua plenitude, ainda que...


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Bandler, Richard. - Usando sua mente: as coisas que você não sabe que sabe: programação neurolinguística / Richard Bandler; tradução Heloisa de Melo Martins Costa. São Paulo: Summus, 1987.




       

terça-feira, 30 de abril de 2019

AMANHECI SAUDADE

por Inajá Martins de Almeida

O ato de ler, em mim, proporciona conjecturas várias. Um cafezinho na cama, a brisa suave que adentra janela entreaberta, o sorriso terno que me enleva o sentido do prazer do amor, daquele amor que me amanhece saudade. 

A foto, abre um parêntesis e se manifesta no espaço que requer o registro. Intacta ante a ótica virtual, a tela consumida fora pelo tempo. A memória, assim,  reproduz em imagem aquele pequenino quadro que em pó se tornou, fragmentado ante a fragilidade da sua composição



A saudade em mim amanhece e ao me remeter a leituras de um distante passado, volto a perceber que o presente não repõe ausências - o passado me direciona a um presente que busca por linhas ao não esquecimento. 

Ao rememorar lembranças vividas, encontro um presente repleto de lirismo e cor. O mesmo suave gozo de um tempo que o próprio tempo não quer se distanciar e o trago diante de mim, num vai e vem das letras que se encontram e se formam harmoniosas, ante o tic tac do teclado que me representa. 

Quantas vezes fantasiosa a palavra, pulsa e vibra ao sabor de duras penas; aquela - palavra - que dá vazão e razão ao tema que clama em mim, e recorro  ao meu sentir maior e passo a transpor para estas linhas a saudade que jorra em mim.

E se amanheci  saudade, aquela que amanhece em mim nesta jornada que mais e mais se transforma em saudade, passo a vislumbrar num presente, que me torna profícua aos dias vindouros, que, se não fora essas lembranças suaves e ternas de um envolvimento entre livros e cores, não haveria saudade para ser memória. 

Memória que se torna saudade numa manhã que me clama às linhas e as teço em mim, ao mesmo tempo em que me enternecem as lembranças que adormecem num desejo ardente pelo reencontro.

Quiçá ilusão. Quiçá fantasioso à poetisa que encontra motivo para as rimas desconexas que a escrevem, num sussurro que se abafa entre linhas a expressar saudade, numa manhã, que já se alonga no tempo, este que não se cansa em registrar o compasso audacioso que lhe fora imputado e que acatamos em nossas manhãs; manhã, que logo se transformará em tarde em noite e em  novas manhãs, com a mesma saudade a se multiplicar.  


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"Janelas para o horizonte" - Tela em acrílico (10x20cm ) por Élvio Antunes de Arruda


segunda-feira, 15 de abril de 2019

UMA CANETA NOS CONTEMPLA

por Inajá Martins de Almeida

Uma caneta nos contempla e nos remete a nossas memórias; lembranças que podemos escrever; memórias que nos compõe; memórias que compomos quando uma caneta nos escreve por meio de nossas mãos.

Passei a perceber o valor de uma caneta, no instante em que escrevia. 

Retomei o passado e o desejo imenso por ter uma em meu estojo, agigantava-se em mim.

Sonho de menina que esboçava as primeiras letras em cadernos brochura, ora caligrafia, ora desenho, ora para os apontamentos diários - justificava o não poder subtrair páginas os tais brochura. O lápis consentia à borracha, apagar erros cometidos; os cadernos deveriam estar aprumados, bem organizados; suas linhas e páginas com o mínimo ou nenhum rabisco; amassados, nem pensar, orelhas em suas pontas inadmissíveis. Ainda hoje eles me atraem e vez ou outra os tenho perto. Lápis preto o indicado para as tarefas; coloridos para os desenhos. Impossível pular etapas – canetas viriam mais a frente. Ufa, quanta exigência para uma pequena que se esmerava no ofício das letras... 

Mas, como era gratificante ver os cadernos arrumadinhos, encadernados, pelas mãos suaves e delicadas da mamãe, com papel de seda coloridos entrarem e saírem de  mochilas como se fossem a passeios entre a casa, escola e vice-versa.

Nos finais de semana contudo, eram os cadernos levados pela professora que os portava nos braços com zelo e carinho, como seus próprios filhos,  para receberem anotações em suas páginas. Ansiosos aguardávamos o retorno, na expectativa de um parabéns, ótimo, bom, regular, você pode melhorar...


Este era o início do letramento. Brincadeiras muitas. Aprendizado. Alfabeto. Números. Contas básicas - soma, adição, subtração, multiplicação. 

A cartilha nos apresentava um Caminho Suave, a outros juntava-se os Amigos de Pedrinho. Tempo em que versávamos semanalmente entre a composição, dissertação e narração; anos que nos encaminhava o curso primário, com vistas ao ginásio, e como ansiávamos pelas etapas - oito anos que contávamos em júbilo crescente em conhecimento, aprendizado e prazer pelo estudo que jamais se apartaria de alguns, em especial  desta que escreve.

Que vontade me dá, retornar aquele longínquo passado repleto de sonho e encantamento pelo aprendizado; rever antigos colegas que o tempo não preservou. Estas linhas me tornam possíveis o resgate.

Mas eis que a perspectiva de uma caneta encontraria eco nos anos vindouros, quando então se poderia escrever com uma caneta tinteiro. Ainda não tínhamos as esferográficas. Meu pai era cuidadoso em preservar as tinteiros, dizia que o escrever era uma arte e que deveríamos primar em portar uma caneta que desse identidade ao nosso escrever. Mas o sonho da esferográfica ficaria latente; quando alguma colega exibia suas quatro, cinco cores numa mesma caneta, uma pontinha de desejo batia forte no peito.

Nas carteiras um pequeno espaço era então reservado para as tintas. Cada qual poderia trazer o seu vidro e  colocar ali, quando necessitasse, sempre com a recomendação da professora, para não sujar a roupa, a carteira, o caderno, as mãos - nem sempre possível. 

Incríveis lembranças que o tempo torna presente. 



As canetas esferográficas só adentrariam nossos hábitos e costumes quando estivéssemos no ginásio. Era a década 1960 que prenunciava anos para a formação que me levaria aos livros.



Canetas me foram presenteadas pelo pai zeloso pela escrita. A primeira uma sheaferr cinza, minha paixão guardada por muitos anos, a outra parker 51 preta com tampa dourada, também tinteiro. Não me contive e me rendi às imagens em captura. Mudanças várias, entretanto, momentos outros, apartaram-me dessas que me acompanharam numa jornada tão significativa. Distantes nesses mais de cinquenta anos,  a memórias almeja o sentir o toque daquelas que se perderam em algum instante e local que não se conta, contudo impossível; fico apenas com o resgate da imagem que se assemelha.

Assim, hoje a modernidade nos torna práticos e uma esferográfica condiz às nossas necessidades prementes. Também, quantas vezes nossos apontamentos se fazem diretamente no teclado de um computador, sem passarmos pelos brochuras, lápis, esferográficas, borrachas. A teclado nos agiliza, a tela tudo permite - cortar, apagar, acrescentar.

Tempos outros em que, ao contemplar uma caneta, pude me encontrar com minha infância e adolescência, minhas memórias mais significativas de um tempo que o tempo não apaga da lembrança, agora mais ainda, transposto para estas linhas.  

Ao término deste texto, o qual me fora tão prazeroso revolver um passado tão presente em meu questionar, a galáxia internet me proporcionou o contato com belíssimo trabalho acadêmico da professora doutora em educação pela Faculdade de Educação da USP, Wiara Alcântara, sob título "A transnacionalização de objetos escolares no fim do século XIX", donde pude capturar imagens de carteiras as quais poderiam representar aquelas que me levaram aos primeiros ensinamentos escolares. Sentávamos em dois, muitas das vezes um menino e uma menina, para ordem e disciplina. No ginásio as carteiras eram individualizadas. Ambas possuíam compartimento para guardar nossos pertences sob a mesinha e o orifício para os tinteiros. 

confira o trabalho em 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-47142016000200115  


sábado, 6 de abril de 2019

ERA UMA VEZ

por Inajá Martins de Almeida
“Era uma vez”, amanheci.

Saí dos contos infantis; adentrei minha envelhecência. A bagagem dos anos vividos proporcionou-me contato com a realidade que as histórias maquiam: - “e foram felizes para sempre”, como se o ser feliz imputasse condição sine-qua-non para a vida plena.

Hoje aos sessenta e nove anos me sinto jovem para ser velha, ao mesmo tempo em que a idade me condiciona a uma realidade que não condiz com o ser jovem. Posso então dizer que me sinto jovial na plenitude dos meus anos.

E a linha do tempo me faz retornar aos anos de leitora in potencial e ao letramento; aos livros, a pouca idade me conduzia. Nossa biblioteca, generosa em volumes, enlevava-me à paixão que se perpetuaria aos anos vindouros – eu os amava. Mesmo não tendo entendimento para seu conteúdo, suas capas me atraiam, suas gravuras me encantavam. Era o livro que me capturava o pensar que se transportava para um universo ainda distante do meu entender criança. 

Assim é que “era uma vez” uma menina que amava tanto os livros, que não pudera almejar profissão mais adequada do que a de Bibliotecária. Iniciava-se ali um comprometimento fiel entre os livros que se deixariam selecionar, analisar, classificar, catalogar, organizar, enfim... Escrever...

Todo esse processo crítico avançaria espaço e tempo a conduzir leitora aos próprios apontamentos: como separar leitura da escrita? Não condiz.

Sob minha ótica, o escrever, complementa-se à leitura; para o autor imaginar seu livro referenciado, recontado, indicado, transformado em outro texto, seja a consagração maior para sua inspiração e transpiração. Claro que não o plágio.

Assim é que “era uma vez” uma menina que amanhecera entre contos de fadas, que brincava de ser leitora e escritora, na lousa, com giz escrevia:

Entre livros nasci
Entre livros me criei
Entre livros me tornei.
Enquanto lia o livro
Lia-me, a mim, o livro.
Hoje não há como separar:
O livro sou eu!
Ademais
Bibliotecária por opção, paixão e convicção
Escritora por transpiração.


Assim ao imaginar o "foram felizes para sempre" em "era uma vez", pude me perceber ao sair das páginas do livro e adentrar meu próprio universo, nesta página virtual e tão real. 

terça-feira, 19 de março de 2019

ESCRITORA EU??? INAJÁ...

por Inajá Martins de Almeida

A aula dessa tarde fora tranquila e repleta de reflexões. 

Muitas vezes adentro o horário, compartilho conteúdo, mas o vazio me acompanha sala afora. Não fora o caso nessa tarde, em que numa palestra de um coaching Conrado Adolpho, desconhecido a mim, até então, trouxera linques fantásticos os quais me permitiram ir além do tema - A maior riqueza - nossa mente...

Sempre em mãos um caderno, uma caneta e a mente atenta às anotações - não diferente nessa  tarde, eis que algo salta quando a recompor, neste espaço,  impressões deixadas pelo autor do tema:

- "Como queremos ser lembrados? O que queremos contar? O que teremos para contar?"

A partir dessa mensagem, dentre outras tantas, instigo o diálogo. A princípio monólogo - eu apenas apontando tópicos a mim significativos. 

Silêncio profundo entre os jovens... Em mim um questionar: 

- Será que me ouvem? Será que absorveram a palestra? Será que permaneceu algum ponto? 

Silêncio ... Apenas silêncio.

Mas não me intimido. Continuo minha fala, até que, algo chama atenção quando trago em cena, minha própria adolescência, anseios, expectativas, dramas, choros, paixões incontidas, silêncios interiores...

Passo a vislumbrar dois universos - presente e passado se mesclam e se encontram em uníssono. Não sou mais a professora que multiplica anos aos anos daqueles que a sua frente silentes se encontram. Agora mesclo meus anos, aos anos deles e formamos um só bloco. 

Eu na minha envelhescência, eles na adolescência... 

O que nos diferencia? 

Percebo que apenas os anos de experiências acumuladas, as oportunidades, as decisões, as buscas, as conquistas, os sucessos e os fracassos, tornam obscuras a distância, que aos pouco se encurtam e se aclaram.

Podemos entender que os anseios, os desejos, os medos e até a época presente que compartilhamos,  não detém  diferença alguma. 

A partir desse momento passamos a dialogar num mesmo patamar, num mesmo nível, num mesmo diapasão. 

Os jovens podem se abrir ao ouvido que presta atenção ao ponto de tentar entender uma geração que,  há muitos, perdida...

Não vejo, esses jovens a minha frente, como uma geração "aborrescente", "perdida", muito embora, quantas vezes os tenho nessa mira, mas hoje, excepcionalmente hoje, pude expressar abertamente que ali há uma elite de  jovens que, embora de classe social vulnerável, estudam, trabalham, buscam se diferenciar. Jovens escolhidos. Adolescentes aprendizes que tem muito a dizer e se destacar no cenário pessoal, profissional e social...

E não percebemos o tempo passar e, se o relógio deixasse de registrar seu compasso, avançaríamos em diálogo.

A noite, em meu quarto de estudo encontro respostas às minhas indagações. 

Videos me encontram. Profissionais me falam na tela e passo a dialogar com autores vários. É quando Mauro esboça e eu registro que:

"a escrita nada mais é do que você conversar com o autor; é você estar sozinha com o autor... Estudar é um privilégio e que a leitura é para amadurecer, crescer e vivenciar... - é uma vida." 

Assim, sozinha comigo mesma, tendo como pano de fundo o computador e os vídeos a nós disponíveis, dialogo com o autor que há pouco conhecera e ele vai além em sua dissertação e vasto conhecimento acumulado em tão pouco tempo - Mauro é muito jovem ainda - quando apresenta e deixa em aberto um novo tópico "a beleza do estudo".

Aqui volto ao meu companheiro e rememoro suas máximas, quando dizia, escrevia e registrava que - "Estudo - és tudo".

Sim... Estudo és tudo. É agregar ser  ao ter do conhecimento adquirido.    

E acrescenta ainda o conferencista Mauro:

- "Quem lê e quem escreve, de uma certa forma convida ao estudo. O escritor que tem medo de estudar é um péssimo escritor. Que a escrita é um sacerdócio a qual a gente apresenta diante da eternidade do próprio ser", seguindo um gancho de Tomaz de Aquino.

A partir daí, pude me encontrar escritora. Pude me perceber que o estudo me acompanhou e me acompanha. Que não passo despercebidamente ante uma palestra, um livro, um contato pessoal, sem meu caderno de anotações ou, minha própria mente.

Assim é que, junto aos jovens sou a professora, aquela que professa transmitir conhecimento acumulado pelos anos. No meu quarto de estudo, sou a Inajá que entre livros nasci, entre livros me criei, entre livros me formei... Agora, busco entre livros me tornar.

E como quero ser reconhecida? Como quero ser lembrada? 

Além  de gritar em mim - "Filhas da História" - que o jornalista Lucas Neri nos agraciou, a mim e a prima Matilde, quando da edição do Álbum Histórico sobre as Bandas de Araras, autoria de meu pai Nelson Martins de Almeida, em co-autoria nossa, quero frisar que o livro agora sou eu, porque agora também sou uma ESCRITORA...

A tarde e a noite dessa segunda-feira 18 de março de 2018, o final de semana que o antecedeu entre novos encontros através de vídeos/aulas, puderam me levar ao encontro com novos personagens que permearam estas linhas e que me trouxeram, de uma forma responsável, respostas às minhas habilidades. Enredaram-me à responsabilidade.

Que a nossa moeda é o tempo que dedicamos ao nosso preparo.

Que a vida é como um trem em que na primeira estação muitos sobem e lotam seus vagões, mas que a cada estação, a cada parada quantos descem e se deixam permanecer nos locais, quer por necessidade, quer por acomodação, quer por falta de opção, quem sabe as razões...

O trem sempre me fora significativo, agora, nessa metáfora sigo minhas estações sem limite de parar... 


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links que me motivaram as linhas

https://www.youtube.com/watch?v=5YA8P9ZWNSM"O ser escritor: lógicas da letra e do real da vida."

A escrita é sem dúvida a via mais direta que permite colocar em cena as fantasias humanas. Todavia, o trabalho realizado sobre a linguagem, introduz uma dimensão suplementar e reunificadora na construção desta fantasia inconsciente que opera tanto na cura terapêutica quanto na própria escrita criativa. A eficácia da operação que realiza a escrita reside em que a fantasia não se afaste tanto do conteúdo da mensagem e de seu ancoramento real com o concreto da vida, o que faz do escritor, aquele que por vocação, suplantar e aportar soluções aos impasses de seus desejos.


Se para o escritor a letra é equivalente a um sintoma clínico, cujo sujeito sofre seus efeitos até que seja restaurado pelo ato terapêutico, o ato de escrever poderá restaurar, pelo viés da letra, a substituição do sofrimento por bordeá-lo e assim separá-lo de seu próprio ser, que diante deste novo objeto manufaturado, poderá então afastar-se dele voluntariamente. Assim, a escrita pode conduzir ao melhor daquilo que se pode esperar do fim de um processo terapêutico.


Afim de comentar estas verdades unificadoras da alma humana, o escritor e editor de livros Sandro Bier convidou o psicanalista, professor e também escritor Mauro A. J. Muniz para uma conversa destas e outras temáticas que gravitam o ato de escrever e a literatura.





quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

ENTRE O TER E O SER

por Inajá Martins de Almeida

Quarta-feira cinzenta. Meados do mês de janeiro do ano que já transcorre em dias (16/01/2019). O café nesta manhã me fora propício ao me perceber em meus espaços. Não muito distante de mim as mudanças físicas me acompanharão. É janeiro de 2019. E, breve, o mês abrirá espaço ao fevereiro e a nova casa estará aberta a mim.

Nesse período de transição, permito-me visitar espaços vazios da nova casa que, embora os anos denunciem longevidade, a mim será feita novidade. Paredes que requerem pintura, jardim que clama cuidado feminino, toque de mulher. Toques que produzirão efeitos modernos aos anos que guardam consigo memórias inestimáveis dos que ali habitaram. Agora, a mim compete preencher de vida os espaços que se tornaram vazios pela ausência deixada.  

Passeio pelos espaços repletos de lembranças, nesta casa que, aos poucos vai se tornando memória. Durante esses últimos nove anos, agregaram nosso ser ao ter que acumulamos - as que já carregava comigo, as que juntamos a dois. Ainda posso transitar em dois momentos - o presente que me é concreto e o futuro que aos poucos planejo - torno plano o que a vista alcança e refaço planos...



Móveis que o tempo envelheceu ganharam novidade em cor na mão do artesão. 

Estantes que se tornaram acanhadas, em si abrigam fragmentos de conversas, de estudo, de reflexão diária entre diálogos intermináveis e produtivos - falta me fazem os tais e quantas vezes me encontro a dialogar comigo, em voz alta até. 

Estantes que, recheadas de ser, agregam inestimável valor afetivo, sentimental. Ao ter, o ser fora agregado, impregnando-se em cada livro. Suas linhas transbordam em ser e me são companhia constante - nossos livros. 

Plantas me rodeiam e trazem consigo a natureza mutável. Muitas deixaram de existir em nossos espaços. Outras tantas se multiplicaram e resistem às intempéries da natureza.

Não sei se fora o café com leite,  saboreado a só nesta manhã cinzenta, tendo apenas por companhia meus pensamentos que jamais se apartam de mim, ou fora a própria mente que pode correr solta e livre entre o ter dos espaços ocupados ao ser dos espaços que são criados, que me levaram, frenética, às linhas. Quiçá, a pouca noite de sono, quando o envolvimento entre os textos me mantiveram atenta a este espaço, o qual me é reservado a disseminar minhas divagações nas linhas virtuais cibernéticas.   

Há pouco o filósofo japonês Ichiro Kishimi  dizia-me, no silêncio das paredes do meu quarto, da simplicidade do mundo.

"A coragem de não agradar" permanece em minha cabeceira de cama e em minha mente diária. Presente da prima Matilde, em poucos dias percorri suas linhas, abstraí ensinamento e retomo sua leitura, agora sob um olhar mais subjetivo do que o fizera quando da primeira. 

Sim! Quanto a releitura pode nos apontar vistas além do ponto, abrir portas, mostrar horizontes encobertos.



Retornei, então,  ao meu interior -  não me posso permitir sequestros de mim. Esse retorno que se faz cada dia mais necessário aos anos vindouros. Sentir e experienciar o silêncio, condição premente. Encontrar, reencontrar, transformar, reinventar o ser que me tornou o que sou, mas que pode ser melhorado a cada passo em busca do sentir maior que se nos apresenta a frente - nosso sentido de vida, para a vida.

E me coloco em mudança que, embora física, já consegue mexer o intelectual, sentimental, emocional e verbal.

Mudanças que me permitem esvaziar espaços com o ter, para que o ser possa fluir leve e livremente, pois entendi que o ter nos aprisiona, enquanto o ser nos liberta. O ter nos torna cativos de espaços que requerem por mais espaços  - cobram de nós alto custo quer em espécie física quer no emocional. O ser nos cobra pouco e nos liberta. Não requer espaço, pois nos acompanha a todos e em todos os espaços.

E, se hoje me permito mudanças é porque as possibilidades me fazem olhar sob a ótica do querer mudar, porque, como deixou registrado em seus diários, aquele que me fora tão diário 


"mudança a única coisa que permanece"

Permito-me, assim,  essa mudança constante, para que o ter não se sobreponha ao ser que me busca permanentemente.