sexta-feira, 27 de julho de 2018

PALAVRA POR PALAVRA - Anne Lamott

por Inajá Martins de Almeida

SOBRE MEU LIVRO INTERIOR

Poucos dias nos separam do ano novo. Logo mais estaremos em 2019. Novas esperanças. Novas perspectivas. Novos sonhos. Novas rotas apontam nossas expectativas.

"Palavra por palavra: instruções sobre escrever e viver" da escritora americana Anne Lamott, inspiram-me estas linhas. Estou em suas páginas derradeiras, prestes a uma releitura. Em muitas páginas posso me encontrar, quando me fala que suas experiências foram para o papel. 


Houve momentos em que julguei ser necessário apontar minhas próprias vivências, mas retrocedi. Afinal, pensara, a quem poderia interessar a não ser a mim mesma?   

[Hoje, 11/05/2020, ao reler estas palavras, sinto a necessidade de acrescentar outras. A frente deste computador, percebo o tempo passar; estamos de quarentena pela pandemia do corona virus - covid 19 - que acometeu a humanidade de maneira cruel, dizimando vidas, provocando pânico, trazendo a tona a política e seus politiqueiros de forma a mais insensata que se possa imaginar. Nos meus 70 anos jamais convivi com um tempo tão sem esperança quanto este. A fé tem me sustentado, e a muitos, embora estejamos apartados do convívio social. Não podemos nos tocar, não podemos nos visitar, não podemos trabalhar, enfim, nosso relacionamento está truncado. Estou aqui com meu livro interior aflorando minha mente. A tela do computador se abre a mim. O livro de Anne Lamott me traz perspectivas e recorro a suas páginas. É momento de escrever cartas, de se autoanalisar, de se perdoar; momento de rever espaços desarranjados, como o tenho feito de maneira a mais acintosa possível. Hoje, um dia após o dia das mães, sinto meu coração enternecido pela ligação de meu filho - como o esperei; como almejei ouvir sua voz. Fora um bálsamo para meu coração. Filho amado, sempre, querido e desejado. Este breve parêntese fora necessário. Outros virão, sem dúvida.]   

Também pensara em Lampedusa, quando nos dizia ser nossa obrigação a confecção de um diário - nossas memórias, mas é Anne que me inspira agora a estas linhas, complementa que a verdade de nossa experiência só pode ser revelada pela nossa própria voz (pág. 186).

"Se você não revelar o que está dentro de você,  
aquilo que não revelar poderá destruí-lo. E a verdade da sua experiência só pode ser revelada pela sua própria voz..."

Quantas vezes pedi a meus pais escreverem suas memórias, suas lembranças mais significativas, mas declinavam a cada rogo meu... Como eu poderei ter voz aquelas que já não se encontram mais em meu convívio e como minha voz terá sentido ante a quem vier a ler meus relatos; eu mesma não sentirei a veracidade daquilo que não vivi, apenas recebi em falas que se perderam ... 

Em outros capítulos me estimula a escrever 300 palavras por dia, pelo menos, mesmo sem inspiração, até que outras possam abrir caminho. Cartas também sugerem um bom estilo de escrita por serem pessoais e informais.

Assim, aqui estou. Não sei bem aonde as palavras vão me conduzir, mas o primeiro passo fora dado. Um novo ano se apresenta. São dias em branco para serem escritos e editados. Sei que tenho muito a contar e quero. Não tenho muito tempo a perder, afinal sei que não viverei outros sessenta anos mais, assim, aguardem-me!


Estamos, hoje em 2018 - 27 de julho mais precisamente... Ah como o tempo transcorre célere... Entre o pulsar do ano que se aproximava 2012 aos meses que transcorrem 2018, contam-se em anos seis e meses sete...


Então... 

Será que tenho um livro dentro de mim? 

Bom... Bem o sei que tenho. Ano passado Matilde, a prima, e eu levamos a lume o livro engavetado que meu pai me deixara - Álbum das Bandas de Araras. Já é concreto. 




Em 20 de julho de 2017 numa sensacional noite de autógrafos, nas dependências da Biblioteca Martinico Prado, entregamos aos munícipes ararenses, aquele que já é considerado o documentário o mais completo sobre as Bandas de Araras. 





"Você acha que tem um livro dentro de você?
Penso que todos nós o temos. Todos temos uma história - a nossa história - que poderia ser escrita. Quem dera pudéssemos registrar nossas lembranças em papéis; tirá-las da memória, do nosso mais íntimo e lançá-las nas linhas do tempo. Muitos o fazem. É possível.



Anne Lamott, nascida entre livros, num lar em que seu pai era escritor, acostumada fora às linhas, à escrita e jamais dela se apartou.





"Hoje em dia, a vida é bem mais complicada do que era na Idade Média, mas, sob vários aspectos, continua a mesma... entretanto, é muito recompensador saber que dentro de nós, ainda há uma parte boa que não foi corrompida e destruída, que pode ser resgatada e usada... no entanto, se você se importa de verdade com alguma coisa, essa crença fará com que você continue se esforçando para terminar seu trabalho".


O livro nos dá um desejo imenso de nos lançarmos de pronto às nossas memórias, à criação de novas histórias, novos personagens.

Direciona-nos à vantagem de que "escrever nos motiva a olhar a vida mais de perto" (p.10)

Meu pai me levara a escrita, incentivara-me a tal, entretanto, historiador, escritor que era sentíamos na pele os revezes que o acompanhavam também. 

A fluência verbal abria-lhe portas entre microfones, palanques, entrevistas, rádio, jornais, TV, ao mesmo tempo em que o lançava aos olhares sinuosos de contrários... 

Quantas lágrimas eu, a filha, vertera em bastidores das conversa que ouvia, das insinuações - não ... não almejara a vulnerabilidade que a escrita pudera me proporcionar.

Um dia, nos idos 1967, numa revista que meu pai editava - Revista de Araras - li um texto que escrevera em nossa viagem ao sul, em casa de tios e primos. Bastara para a partir daí meu nome figurar no sumário de todos os demais números - como estudante. Entretanto, jamais escrevi linha sequer. O anonimato me serviria de bastidor.

Até que, em 2005 meu nome viria a estar estampado num caderno nacionalmente visível: desta vez era o ENEM de 2005 que encontrara um texto no Amigo do Livro e o trouxera como motivador para a redação daquele ano. A partir desse momento, percebi que a escrita viera ao meu encontro e que o texto logo editado numa revista me fora um sinal de que deveria abrir-me ao universo literário, não importasse a visibilidade que fosse.

Assim, estes textos, resultado de encontros entre livros estão a me proporcionar satisfação inimaginável e, quiçá, poderei alavancar outras revistas mais, antologias, jornais e, meu próprio livro num futuro breve, afinal, livros me nortearam desde tenra idade, basta leitor, sentar e escrever...

"Escreva um pouco por dia... Faça de conta que são escalas de piano. Imagine que assinou um contrato com você mesma... Comprometa-se a terminar as coisas". (p.19)  

Bom, eu não tenho a pretensão de ser uma escritora, como muitas que existem no universo da escrita, mas penso que há algo que posso dizer e ser lida sim, quer em poemas, quer em situações do cotidiano, como crônicas - sim em prosa e verso gosto de me exercitar. Em meus blogs, quantos os tenho. Assuntos diversificados que se abrem. Já os perdi de vista, quantos.

Este estou a formatar gradativamente e confesso que tem me alegrado por demais poder voltar aos seus temas, seus títulos, agregar pontos em aberto. Inspirar-me em livros e escritores que nos apontam nortes para nossos gostos mais íntimos. Quero sim dar vasão a este lado que ficara num passado longínquo, resgatado nestes anos que ainda me sobrevierem.

Um pouco por dia, não mais que isso me basta para entretecer meus dias.

Realmente, seguindo sua fala buscar seduzir o leitor e compartilhar o da escrita dom com os demais.

Leitura gratificante.

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Lamott, Anne   -   Palavra por palavra: instruções sobre escrever e viver   /  Anne Lamott  [traução de Marcello Lino];  Rio de Janeiro:  Sextante, 2011.   

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