por Inajá Martins de Almeida
30/12/2015. Quarta-feira. Amanhece. Chove em São Carlos. A cidade comporta-se cinza. O prateado da fina água chama atenção ao barulho que os carros provocam em suas poças no asfalto. Aproveitar o dia é tudo que ansiamos, afinal 2016 se aproxima. Chegamos aos trinta dias de dezembro.
Os pássaros se alegram. Cantam. Agitam-se. A praça se cobre de verde. As flores resplandecem suas cores várias.
Água. Vida. A chegada do ano promete surpresas. A natureza se abre à esperança. Eu me alegro. Planejo.
O livro em mãos me fala da magia. Lindo. Encantador. Pinóquio. Entusiasmam-me os versos. Volto à infância. Sinto-me criança. Danço aos versos de Letícia Dansa e passo a trovar:
Quem na infância
não pensou em travessura
não se sentiu criança
quando no tempo volta à leitura.
É Pinóquio que traz à lembrança
da casa dos pais o aconchego a embalar
belas histórias, sonho da criança
sonhos que se podem sonhar.
E passa o tempo e torna a passar
mas a criança que vive e sonha o livro
logo se põe a contar
lembrança do passado distante, tão vivo.
Livro que pudera encontrar
livro que fora encontrado
entre tantos na estante a clamar
- quero por ti ser abraçado.!
Agora é ele que passa a inspirar
sonho e poesia
da menina distante a sonhar
com fadas, varinhas... quanta magia!
O livro, leva-me escritor
à magia que ele inspira
e ao olhar de leitor
as linhas logo aspira.
E percebe leitor amante
que fala suas páginas como se vivo fora
com boca, cérebro, narinas.
O livro respira!
O livro inspira!
Leitor descortina
as linhas do autor.
Desvenda seus sonhos ocultos
refaz sua veia de poeta
como sombras, vultos
vem segredar - segredos desperta.
Poemas que não tem fim as linhas embalam
como a ninar a criança
que renasceu em mim.
Letícia Dansa
dansa nos versos da leitora
que adentra a história
na melodia da rima dança...
Dança, Dansa, Letícia Dansa
baila, baila sempre a girar
o sonho da criança
a bailar.
Magia somente possível, quando o livro
se torna a ler
leitura que encanta
quando se aprende a fazer.
Saber ler é uma arte
descobrir sua beleza também
aprende-se a andar
não se distancia do falar.
Mas... é quando se aprende a ler
logo a escrever
que se dá a completude
a completude do ser.
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Esta é a leitora. Esta sou eu quando não consigo me separar do livro. Aprecio-o. Estudo sua capa. Seus autores. Organizadores. Tudo me leva ao encantamento.
O livro fala. Bibliotecária que aprendi a ser, percebo o livro no seu conjunto. Aí a beleza da obra. Ler o livro no seu todo. Eis o segredo, razão porque ele se torna tão importante para quem o lê.
Penso no escritor "o Judeu" (Antonio José da Silva - 1705/1739) e absorvo algumas passagens de suas décimas e que seja prudente o leitor, diante do meu sonho de criança:
Penso no escritor "o Judeu" (Antonio José da Silva - 1705/1739) e absorvo algumas passagens de suas décimas e que seja prudente o leitor, diante do meu sonho de criança:
Amigo leitor, prudente,
Não crítico rigoroso,
Te desejo, mas piedoso
Os meus defeitos consente:
Nome não busco excelente,
Insigne entre os escritores;
Os aplausos inferiores
Julgo a meu plectro bastantes;
Os encômios relevantes
São para engenhos maiores.
Esta cômica harmonia
Passatempo é douto e grave;
Honesta, alegre e suave,
Divertida a melodia.
Apolo, que ilustra o dia,
Soberano me reparte
Ideas, facúndia e arte,
Leitor, para divertir-te,
Vontade para servir-te,
Afecto para agradar-te.
http://www.fclar.unesp.br/Home/Pesquisa/GruposdePesquisa/Dramaturgia-GPD/OJudeu/aobra_teatrocomicot.pdf
Magnifico encontro Pinóquio, Lectícia Dansa, Antonio José da Silva. Passatempo alegre e suave pode compor singela melodia, para divertir quem escreve e agradar quem possa ler.
Inajá Martins de Almeida - São Carlos 30/12/2015)
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Resgato livro neste instante e alma grita em júbilo. Meus projetos. Meu retorno aos textos. O passar a limpo o tempo investido, acrescentar novas linhas, aclarar outras. Tudo é possível quando se tem o registro na tela digital.
Aos poucos novo sentido vou encontrando aos meus momentos de isolamento nestas paredes deste local aconchegante. Meus livros organizados em estantes, meu piano que o posso tocar vez ou outro. Os sofás ornamentados por croches. Eis aqui um pedacinho de mim que vai tomando, cada vez mais aspecto do meu ser.
Neste dia 27/7/2018 a lua em seu eclipse a dar espetáculo veio preencher este momento de puro lirismo e me fez retomar ao livro que tanto me inspirou e fora motivo de tantas linhas.
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