terça-feira, 24 de julho de 2018

MINHA BUSCA DA BELEZA - Rollo May



por Inajá Martins de Almeida
sábado, 7/7/2018 - escrevo...



" ... a beleza nasce do ato lúdico, enquanto se brinca".(Schiller - p.49)

"O ato lúdico é a única atividade em que a fusão interior e dos fatos objetivos se realiza. Dessa fusão procede a forma viva que é a beleza. Essa forma vivente é vital, animada, dinâmica; e ao mesmo tempo ela dá serenidade, sossego, como por exemplo, na música... "
"O ato lúdico une o mundo interior de nosso devaneio pessoal ao mundo exterior das pessoas e da natureza".(p.49)



O livro inspira-me; eleva-me aos meus devaneios concretos, porque o exteriorizo por meio destas linhas, que se tornam presentes ao meu sentir, e, futuro, a quem vier encontrá-las, quer em rascunho a punho, quer na grande galáxia internet a qual deposito esses apontamentos.




Em 12/7/2018 retomo meu caderno de anotações e escrevo:

O inverno nos encontrou. Manhã gelada na cidade de São Carlos. O quarto respira a brisa úmida que adentra janela entreaberta. Amanhecemos entre as cobertas quentes, Mel a nos direcionar à sua alimentação matinal, o cafezinho quentinho com seu aroma e cheiro peculiar sendo preparado por Élvio, que não se  roga ao entregar na cama a cada manhã.

Livros sempre a me rodearem, a me conduzirem tempo e espaço, numa companhia que se faz sentir, acalentando de forma a mais profunda meu existir. 

Rollo May com seu "Busca da Beleza" instiga-me em suas páginas, a maneira como conduz suas memórias, desvendando a nós um pouco de si, levando-nos, quantas vezes a nos irmanarmos no contexto e, juntos, viajamos por lugares que, embora jamais conhecidos, tornam-nos tão familiares - escritor e leitor se fundem, completam-se, dialogam entre si e passam a se escrever, cada qual em sua época, em seu local, sem ao menos jamais terem se encontrado. 

Assim é que os capítulos se aventuram aos apontamentos: quero-os neste caderno - agora neste espaço cibernético também. Transcrevo partes, frases dentro do contexto que adentram meu sentir: - A Beleza e a Morte; julguei passar adiante, mas, rendi-me à escrita poética do autor a citar outros tantos que lhe vieram emprestar trechos ao tema que se abria, porque realmente todos já passamos pela lembrança da morte de alguém próximo e, a nós mesmo, um dia desconhecido, será concedida essa experiência, assim, cedi à leitura e, passo a passo caminhei e me envolvi:

"Os artistas... são as pessoas que criam coisas que perduram para além da morte". p.83


E segue e me faz seguir e absorver a citação de Spinoza em sua Ética:


"A existência de uma coisa não pode ser explicada pela duração ou pelo tempo, 
mas somente por esta qualidade da eternidade". p.84

Penso no escritor. Seríamos todos, pois, escritores? Afinal, se vamos à escola aprender a ler e escrever, o que faz, há muitos, se distanciar da leitura e, principalmente, da escrita. Bom... conjeturas a parte, quem sabe retomemos em algum momento. Ah! Escritor...

Volto às primeiras páginas do livro em questão e é quando "um escritor chega às portas do Céu, o qual, levado à presença de São Pedro, é acusado por este de "simplificar demais..." p.11. E penso, em meu questionar e me visita Fernando Pessoa com o que abstraio sendo o poeta um fingidor, que consegue fingir a própria dor. 

Seria realmente isso? Seria, então, por esta razão que não se busca pela escrita para não ser acusado? Ser visto? Criticado, copiado ou outros tantos mais? E me rendo à escrita e me entrego a auto interpretação em que o autor figura-me como aquele que, ao me encontrar, em meio a milhares de títulos dispostos em estantes bem organizadas daquele sebo "Outros Contos", da bibliotecária cuidadora pelos livros que comercializa, passa a enlevar-me através das linha que ao mesmo tempo que leio, passo a ser partícipe do contexto, quando me percebo entre as linhas - não mais leitora, mas aprendiz de escritora... 


"Outros Contos" é uma casa em seu formato externo - templo do conhecimento para muitos que a buscam. Percorro ávida pelo encontro de algum título, autor que venham saciar minha sede pela leitura que afete meu ser. Salas amplas, estantes nas paredes, mesas e cadeiras, sobre janelas que se abrem à rua, sofás se debruçam a preencherem harmoniosamente espaços em que podemos nos aconchegar, avançar os títulos e nos permanecer enlevados aos temas, às leituras e, quiçá, torná-lo nosso.  

Extasio-me ao inesperado, tão esperado - Rollo May, conhecido nos era, já nos desvendara "O Homem a procura de si mesmo", agora, pois, encaminhara-nos à Beleza e nos propõe "a dimensão artística de nós mesmos e os seres humanos sobre os quais lemos alguma coisa".


Lembrei-me assim e não me privei ao registro, de um comentário pela internet, o qual chamou-me especial atenção donde devemos, por um momento, quem sabe, parar com tanto nos encher de títulos, mestrado, doutorado, especializações e sairmos a cultivar as praças, as flores, as pessoas, conversas possíveis e sobretudo, ler Manoel de Barros; este último, contudo,  fora interessante, uma vez que encontramos um livro seu, jogado na rua e dele nos apropriamos, para casa o trouxemos e fomos ao encontro em saber que era esse que nos teria legado suas "Memórias Inventadas" e encontramos o autor mato-grossense que, menino Manoel, fora levado aos estudos e aos livros e, em suas especulações, ao sentir e pensar que grandes estudiosos e eruditos pudessem se esquecer do trivial que a vida proporciona, encontra Albert Einstein a dizer que:


" a imaginação é mais importante do que o saber"

Foi aí que se deu conta da soberania de Deus em sua engenharia e que, ao homem, não lhe é concedida a soberania nem para ser um "bentevi" - p.153 Memórias Inventadas _ Manoel de Barros

Assim é que o relógio avança o tempo e, nesta manhã fria, o sol se levanta e aquece o espaço; os afazeres me clamam à realidade; logo mais aula RASC, mas, antes, um retoque me é significativo para a inspiração que me fora alcançada:

"precisamos enfrentar a história da cultura em que vivemos, nos movemos e existimos. É esse não ver as coisas em sua dimensão artística que nos tem feito cegos aos perigos de nosso crescimento fenomenal... ademais precisamos enfrentar nossa própria arte pessoal, seja qual for. A Arte tem sido a auto-interpretação dos seres humanos no decurso da história"... Rollo May p. 13

Assim, transbordando em ideias, inspirando-me através das palavras dos autores e poetas, posso deixar o aconchego desta cama, abandonar os cobertores quentinhos e partir à caminhada que se abre a mim. 

Repleta por boas inspirações, para enfrentar a lida, encerro em agradecimento o acordar mais uma manhã, entre o café aromático e amoroso que me fora servido, as leituras dos livros que os tenho ao redor e que tanto puderam inspirar estas linhas, as quais retornarei em outra manhã. Obrigada Deus.

21/7/2018 - sábado
Após noite agitada, em que a cabeça latejava em dor constante, o comprimido me levara ao alívio e sono. A tensão, estresse dos últimos acontecimentos - doença de Élvio, contratações jovens RASC - desencadearam tensões em meu físico.

Amanheço livro em mãos. Rollo May continua instigar-me. Suas páginas recheadas de questões, gritam-me; levam-me a outras tantas páginas. Horas infindas as imagino numa frase:

"aja como o criador de uma estátua que tem de ser feita bela... " - Plotino  - cap. VIII

Palavras soltas o texto me revela e me aproprio...

"encontrar forma no caos..." - p.141; 
"a forma é a estrutura não material de nossas vidas, à base da qual vivemos e sobre a qual baseamos nosso próprio caráter particular". p.142

Mais além...

"a gente está sempre, subconscientemente, no processo de desmanchar alguma coisa em nossa imaginação, e de repor, em seguida, tudo em seu lugar... 
Ora, tudo isso é uma construção de forma... A forma dita o conteúdo"... 
[Assim...]
 "Há um perigo em se suprimir o caos com demasiada facilidade, pois, com isso, se remove o estímulo..." - p.144
Imagino, pois:

caos -  estímulo - imaginação - criação - forma

caos =  fator

estímulo =  gerador

imaginação =  motivador

criação =  instrumentador

forma =  realizador

O caos a se pensar na Criação do Mundo, donde: - A Terra era vazia e sem forma... Penso no artesão, o novelo de lã, linha. Fio que se mede, que se pesa - inerte numa caixa, numa estante. Sim, o caos entre tantos novelos, tantas cores, daí o estímulo para se criar. 

E o desmanchar o que tecido fora - ponto a ponto - encontra o artesão sua frenética busca pela beleza, pelo gozo do prazer em se tecer e admirar o que está a tecer; assim, há que se agradar primeiro artesão, artífice de sua obra, para, depois, tornar público sua criação, quer sobre a mesa, adornando corpos, em fotos, em fatos. 

Assim é pois que o caos gera sentido e faz sentido e se irmana ao Criador e gera dor de toda beleza que se pode ver, sentir, imitar. Sim... porque

"A Terra era vazia e sem forma, mas o Espírito de Deus paivara sobre o caos"...

Posso, a partir desse momento, encontrar-me no emaranhado confuso de pensamentos, em que, por algum momento, o caos me fez companhia, mas, a partir deste instante, a imaginação pode levar-me além das páginas escritas por Rollo May, para as minhas próprias escritas. 

22/7/2018 - domingo

O vento frio da manhã adentra janela entreaberta e nos encontra no aconchego entre cobertas. Amanheço livro. Os capítulos percorridos entre temas, aguçam minha mente que se vai longínqua, entre memórias - lembranças, quantas fugidias; saudade que se lança no vazio, em busca dos personagens que não se encontram mais presentes.


Rolo May consegue penetrar profundamente nosso interior e dele extrair nosso sentir que aflora. O culta a beleza, as aulas de Dona Carminda a nos levar a distinguir o Belo. Sua entonação marcante, elegante, seu sotaque português, penetrante, loquaz, soa-me ainda agora decorridas décadas desde 1970 até 2018.

A beleza que minha mãe, a meus olhos de filha deslumbrada, transmitia-me seu porte, gestos, maneira de falar, de cativar, de agradar, de receber, de partilhar. Seu sorriso, sua aura angelical sempre em lembrança presente. 

Ah o escritor... Passa a nos desvendar, enquanto desvenda-nos; lança-nos em salas, como terapias e nos revelamos... Em nós descortinam bastidores que se mantinham incógnitos, guardados em chaves e afloram sentimentos tais que avançam o palco em júbilo, em brados e louvores e abrimos gavetas e buscamos memórias que nos ilustram.

Minha mãe... O drama da perda da primeira filha, a morte que lhe rondava, soberba, fria, maldosa, enganosa, jamais lhe fora intimidadora. Vencia batalhas, fortalecia-se a cada percurso.

Meu pai... Sempre presente, combatia o combate, entre livros, linhas que declinava, escrevia o roteiro dos anos por virem - e vieram, viveram, sobreviveram, venceram.

Jamais encontrei pai e mãe a reclamarem, blasfemarem as perdas, mas os encontrava sempre alegres a eleger a vida, os dois filhos que anos depois almejaram trazer à vida; eram os anos em aberta comunhão, um dia vivido por vez. O agradecer ao findar do dia; o agradecer e se entregar ao raiar do sol.

Tudo isso me tornou observadora, embora, quantas vezes, a pouca idade, a infância, a adolescência não me proporcionaram o devido preparo ao entendimento do presente que me fora os pais. Entretanto, ainda que no avançar dos anos, em que a ausência me cala profundamente, reconheço o quanto o Criador me fora gentil ao me direcionar os pais, irmão, enfim a família que nasci.

Como é gratificante poder em idade avançar no tempo; tempo que nos propicia amadurecimento e entendimento.

O acompanhar em médicos, quando adoeciam, as experiência que adquirimos deles, tudo a nos compactuar a beleza de se poder admirar o por do sol, o raiar do dia; ouvir o murmurar das águas, dos pássaros em seus trinos, o roçar a terra, sentir o cheiro de relva molhada. Quantas manhãs... O balançar da corda dependurada  no galho da ameixeira. O fruto amarelo, doce, suave a molhar o rosto quando a explodir na boca.

Doce lembrança meus pais me proporcionaram. Minha infância... O regaço quentinho de minha mãe a me oferecer seu colo, quando me via acabrunhada. Meu pai a chegar do trabalho sempre nos presenteando com seus chocolates - e a gaveta da cômoda se enchia pelos tais; éramos comedidos na gulodice - a mãe orientava-nos à tal, assim, havia fartura todos os dias...
 Bom fora transportar-me aos anos de infância. A janela em noite fria de junho. O céu pintado de balões mesclando-se as estrelas as quais podiam-se ver entre a estrela d'alva, o cruzeiro do sul, as três marias... Hoje não mais as distinguimos, só em nossa imaginação. As luzes da cidade ofuscaram o brilho natural do firmamento.



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VIDEOS SOBRE ROLLO MAY E SUA PSICANÁLISE EXISTENCIAL


https://www.youtube.com/watch?v=Trzta8kjwRg - SER-NO-MUNDO

https://www.youtube.com/watch?v=ixwyQkdxYUo - ANSIEDADE E CULPA

https://www.youtube.com/watch?v=DnNNW1TLEPg - CUIDADO, AMOR E VONTADE

https://www.youtube.com/watch?v=dKKkKQ-vQE0 - PSICANÁLISE HUMANISTA EXISTENCIAL



  

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