sábado, 6 de abril de 2019

ERA UMA VEZ

por Inajá Martins de Almeida
“Era uma vez”, amanheci.

Saí dos contos infantis; adentrei minha envelhecência. A bagagem dos anos vividos proporcionou-me contato com a realidade que as histórias maquiam: - “e foram felizes para sempre”, como se o ser feliz imputasse condição sine-qua-non para a vida plena.

Hoje aos sessenta e nove anos me sinto jovem para ser velha, ao mesmo tempo em que a idade me condiciona a uma realidade que não condiz com o ser jovem. Posso então dizer que me sinto jovial na plenitude dos meus anos.

E a linha do tempo me faz retornar aos anos de leitora in potencial e ao letramento; aos livros, a pouca idade me conduzia. Nossa biblioteca, generosa em volumes, enlevava-me à paixão que se perpetuaria aos anos vindouros – eu os amava. Mesmo não tendo entendimento para seu conteúdo, suas capas me atraiam, suas gravuras me encantavam. Era o livro que me capturava o pensar que se transportava para um universo ainda distante do meu entender criança. 

Assim é que “era uma vez” uma menina que amava tanto os livros, que não pudera almejar profissão mais adequada do que a de Bibliotecária. Iniciava-se ali um comprometimento fiel entre os livros que se deixariam selecionar, analisar, classificar, catalogar, organizar, enfim... Escrever...

Todo esse processo crítico avançaria espaço e tempo a conduzir leitora aos próprios apontamentos: como separar leitura da escrita? Não condiz.

Sob minha ótica, o escrever, complementa-se à leitura; para o autor imaginar seu livro referenciado, recontado, indicado, transformado em outro texto, seja a consagração maior para sua inspiração e transpiração. Claro que não o plágio.

Assim é que “era uma vez” uma menina que amanhecera entre contos de fadas, que brincava de ser leitora e escritora, na lousa, com giz escrevia:

Entre livros nasci
Entre livros me criei
Entre livros me tornei.
Enquanto lia o livro
Lia-me, a mim, o livro.
Hoje não há como separar:
O livro sou eu!
Ademais
Bibliotecária por opção, paixão e convicção
Escritora por transpiração.


Assim ao imaginar o "foram felizes para sempre" em "era uma vez", pude me perceber ao sair das páginas do livro e adentrar meu próprio universo, nesta página virtual e tão real. 

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