por Inajá Martins de Almeida
“Era uma vez”, amanheci.
Saí dos contos infantis; adentrei minha
envelhecência. A bagagem dos anos vividos proporcionou-me contato com a
realidade que as histórias maquiam: - “e foram felizes para sempre”, como se o ser
feliz imputasse condição sine-qua-non para a vida plena.
Hoje aos sessenta e nove anos me sinto
jovem para ser velha, ao mesmo tempo em que a idade me condiciona a uma
realidade que não condiz com o ser jovem. Posso então dizer que me sinto jovial
na plenitude dos meus anos.
E a linha do tempo me faz retornar aos
anos de leitora in potencial e ao letramento; aos livros, a pouca idade me
conduzia. Nossa biblioteca, generosa em volumes, enlevava-me à paixão que se
perpetuaria aos anos vindouros – eu os amava. Mesmo não tendo entendimento para
seu conteúdo, suas capas me atraiam, suas gravuras me encantavam. Era o livro
que me capturava o pensar que se transportava para um universo ainda distante
do meu entender criança.
Assim é que “era uma vez” uma menina
que amava tanto os livros, que não pudera almejar profissão mais adequada do
que a de Bibliotecária. Iniciava-se ali um comprometimento fiel entre os livros
que se deixariam selecionar, analisar, classificar, catalogar, organizar,
enfim... Escrever...
Todo esse processo crítico avançaria
espaço e tempo a conduzir leitora aos próprios apontamentos: como separar
leitura da escrita? Não condiz.
Sob minha ótica, o escrever,
complementa-se à leitura; para o autor imaginar seu livro referenciado,
recontado, indicado, transformado em outro texto, seja a consagração maior para
sua inspiração e transpiração. Claro que não o plágio.
Assim é que “era uma vez” uma menina
que amanhecera entre contos de fadas, que brincava de ser leitora e escritora,
na lousa, com giz escrevia:
Entre livros nasci
Entre livros me criei
Entre livros me tornei.
Enquanto lia o livro
Lia-me, a mim, o livro.
Hoje não há como separar:
O livro sou eu!
Ademais
Bibliotecária por opção, paixão e convicção
Escritora por transpiração.
Assim ao imaginar o "foram felizes para sempre" em "era uma vez", pude me perceber ao sair das páginas do livro e adentrar meu próprio universo, nesta página virtual e tão real.
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