terça-feira, 6 de janeiro de 2015

MOMENTOS...

por Inajá Martins de Almeida



2015
Outro ano se inicia.
Novos sonhos.
Novas perspectivas.

Momentos...
Retalhos solitários
engavetados
aguardam!

O tempo? Quem poderá sabê-lo?

Quem poderá unir seus pontos?
Tecer encontros?
Dar sentido aos fios?

Eis que possível fora!

O entalhe na madeira
Retorna aos sonhos - o artesão!

A cúpula guarnece-se de retalhos amealhados.
O tempo passado insiste em adentrar o presente
e a presenteia.

Presente de encontros.
Sentidos nos fios, sentido. 

Quadros ornamentam paredes brancas
e as tecem.
Enebriantes brancas paredes.

Mãos que pintam. Retratam momentos
a se perpetuarem em molduras,
que se emolduram.
Lembranças nas telas deixadas,
a cada pincelada de cores ,
tornadas lembranças.

A colcha.
Retalho que se transforma
Recompõe o ambiente
Dá novo sentido ao que era.

Lembranças que passam...
Lembranças que ficam nos fios.
Permanecem lembranças.

Retalhos!
Sempre retalhos.

Em cada fio,
 tecem sentido momento...

Momentos, em sentido, tecem!
Memórias passadas...
Memórias vividas
vivenciadas
em cada retalho,
cantos
de cantos entoam
memórias que o tempo
insiste em recriar memórias passadas
em presente.

Eterno presente! 

   

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

QUEREM SEQUESTRAR A FILOSOFIA DE NÓS: cenas do cotidiano

por Inajá Martins de Almeida - 02/01/2015

Nada de novo o título nos mostra.Quantos sequestros todos os dias: Sonhos. Ideais. Realizações. Fracassos. Ganhos e perdas. A lista engorda. Mas, querer sequestrar a filosofia de nós - impossível!

Somos influenciados? Influenciamos?

Interessante a conjectura. Se somos influenciados por pessoas de grande influência, de grande visibilidade, isso pode ter um peso, quem sabe um valor maior aos olhos. Mas, e se o oposto ocorre, será que se pode ver com olhar diferenciado?

Assim, como seria a influência que exercemos, nós anônimos?

Percebemos então que quanto mais altas esferas, a visibilidade extrapola horizontes, quebra limites e atinge fronteiras inimagináveis. Porém, importa-se com isso os que detém a visibilidade a seu favor? Percebemos também que, muitas vezes, não?

Mas o que podemos pensar e dizer sobre influências no cotidiano? Pessoas comuns, anônimas que nos bastidores não se importam com o estrelato, ao menos com o anonimato, mas que exercem influência.

A doença brusca e cruel modifica o projeto de vida de uma jovem linda, modelo aos padrões da beleza em passarelas.

Cabelos longos, compostos, reluzentes ao brilho do sol, macios, cobiçosos a olhares, agora entregam-se às tesouras. Mãos hábeis dão início ao processo do corte. Antecedem a medicação química que não terá cuidados necessários na organização dos fios, que cairão e se espalharão ao léu.

É agora o pensar filosófico que dá encaminhando ao fato. O processo da poda. O aproveitamento. A utilização da colheita. O reaproveitamento dos fios, na confecção de uma peruca, dá início o processo de mudança.

Encontros inesperados. Busca por estimas quebradas. Os cabelos a representarem apenas os fios externos, ponta do iceberg que se esconde no interior ferido, magoado, alcançado pela cruel degeneração das células -  sorrateira a roubar da vida saudável a perspectiva  de realizações inesperadas.

Aí inicia-se o processo das intenções. A percepção do que se passa no cotidiano. Nas ruas. Nas casas. Quantas lágrimas. Quantas aspirações. Paredes a abrigarem sonhos.  Quantas rachadas, ansiando sutil reparos. 

Como é bom e gratificante os encontros. Resgatar temas para nosso cotidiano. Trazer a tona nosso olhar filosófico. Irmanar nossas experiências. Vivenciar o passado no presente.

Somos filósofos, quem sabe alguns, sem o saber. Quando nosso olhar caminha além das imagens. Além da informação.

Somos filósofos quando buscamos conhecer quem está por trás da informação.

Somos filósofos quando a fazer junção da informação e conhecimento e abstraímos a sabedoria para nosso próprio viver diário.

Somos filósofos quando percebemos que somos influenciados nas mesmas proporções em que também podemos influenciar.

Somos filósofos quando percebemos a sinceridade nas palavras da jovem em tratamento, ao se sentir "linda", ao perceber que em meio ao drama que vive, pode influenciar e influencia tantas outras pessoas como a si mesma.

Daí percebemos que querem sequestrar a filosofia de nós, porém:

"Não se pode pensar em nenhum homem que não seja também filósofo, 
que não pense, precisamente, porque o pensar é próprio do homem como tal". (1)


Nota: A inspiração para as palavras vieram-me através da Flávia Flores no Programa Hora do Faro - domingo 20/12/2014. Veja alguns links interessantes:



·                     http://entretenimento.r7.com/hora-do-faro/fotos/faro-promove-reencontro-entre-mae-e-filha-em-israel-23122014?foto=5#!/foto/5
·                     http://www.quimioterapiaebeleza.com.br/


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(1) GRAMSCI, Antonio - Obras escolhidas.  São Paulo: Martins Fontes, 1978, p. 45.  In: ARANHA, Maria Lúcia de Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires.   Filosofando: introdução à filosofia.   São Paulo, Moderna, 4ª ed. 2009 - p.16. 


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