por Inajá Martins de Almeida - 02/01/2015
Nada de novo o
título nos mostra.Quantos sequestros todos os dias: Sonhos. Ideais.
Realizações. Fracassos. Ganhos e perdas. A lista engorda. Mas, querer
sequestrar a filosofia de nós - impossível!
Somos influenciados? Influenciamos?
Interessante a conjectura. Se somos
influenciados por pessoas de grande influência, de grande visibilidade, isso
pode ter um peso, quem sabe um valor maior aos olhos. Mas, e se o oposto
ocorre, será que se pode ver com olhar diferenciado?
Assim, como seria a influência que exercemos,
nós anônimos?
Percebemos então que quanto mais altas
esferas, a visibilidade extrapola horizontes, quebra limites e atinge
fronteiras inimagináveis. Porém, importa-se com isso os que detém a
visibilidade a seu favor? Percebemos também que, muitas vezes, não?
Mas o que podemos pensar e dizer sobre
influências no cotidiano? Pessoas comuns, anônimas que nos bastidores não se
importam com o estrelato, ao menos com o anonimato, mas que exercem influência.
A doença brusca e cruel modifica o projeto de
vida de uma jovem linda, modelo aos padrões da beleza em passarelas.
Cabelos longos, compostos, reluzentes ao
brilho do sol, macios, cobiçosos a olhares, agora entregam-se às tesouras. Mãos
hábeis dão início ao processo do corte. Antecedem a medicação química que não
terá cuidados necessários na organização dos fios, que cairão e se espalharão
ao léu.
É agora o pensar filosófico que dá
encaminhando ao fato. O processo da poda. O aproveitamento. A utilização da
colheita. O reaproveitamento dos fios, na confecção de uma peruca, dá início o
processo de mudança.
Encontros inesperados. Busca por estimas
quebradas. Os cabelos a representarem apenas os fios externos, ponta do iceberg
que se esconde no interior ferido, magoado, alcançado pela cruel degeneração
das células - sorrateira a roubar da vida saudável a perspectiva de
realizações inesperadas.
Aí inicia-se o processo das intenções. A
percepção do que se passa no cotidiano. Nas ruas. Nas casas. Quantas lágrimas.
Quantas aspirações. Paredes a abrigarem sonhos. Quantas rachadas,
ansiando sutil reparos.
Como é bom e gratificante os encontros.
Resgatar temas para nosso cotidiano. Trazer a tona nosso olhar filosófico.
Irmanar nossas experiências. Vivenciar o passado no presente.
Somos filósofos, quem sabe alguns, sem o
saber. Quando nosso olhar caminha além das imagens. Além da informação.
Somos filósofos quando buscamos conhecer quem
está por trás da informação.
Somos filósofos quando a fazer junção da
informação e conhecimento e abstraímos a sabedoria para nosso próprio viver
diário.
Somos filósofos quando percebemos que somos
influenciados nas mesmas proporções em que também podemos influenciar.
Somos filósofos quando percebemos a
sinceridade nas palavras da jovem em tratamento, ao se sentir
"linda", ao perceber que em meio ao drama que vive, pode
influenciar e influencia tantas outras pessoas como a si mesma.
Daí percebemos que querem sequestrar a
filosofia de nós, porém:
"Não se pode pensar em nenhum homem que não seja também
filósofo,
que não pense, precisamente, porque o pensar é próprio do homem como
tal". (1)
Nota: A inspiração para as palavras vieram-me
através da Flávia Flores no Programa Hora do Faro - domingo 20/12/2014. Veja
alguns links interessantes:
·
http://entretenimento.r7.com/hora-do-faro/fotos/faro-promove-reencontro-entre-mae-e-filha-em-israel-23122014?foto=5#!/foto/5
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http://www.quimioterapiaebeleza.com.br/
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(1) GRAMSCI, Antonio - Obras escolhidas.
São Paulo: Martins Fontes, 1978, p. 45. In: ARANHA, Maria Lúcia de
Arruda e MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à
filosofia. São Paulo, Moderna, 4ª ed. 2009 - p.16.
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