O GUARDIÃO DO TEMPO
- 07/05/2019 -
Janeiro
de 2016, a capa nos chama atenção, em especial a mim que me atenho ao tempo e
aos relógios. Tenho comigo um relógio como esse que meu pai orgulhosamente
trazia consigo sempre no bolsinho da calça, preso à cinta. Leio as imagens,
percorro algumas falas
"A inabalável convicção de Mitch Albom de que nossas vidas tem sentido
é reconfortante" People Magazine (capa)
Todo o percurso das
falas me é significativo; eis que
_ "Um homem
senta-se sozinho numa caverna". (p.8)
A solidão dos dias
atuais, a complexidade do tempo quando nos falta tempo, nossas cavernas, locais
de isolamento e refúgio e quanto tempo nos resta, questões que enfrentamos
quando percebemos o tempo escoar em nossas mãos e nada podemos deter. Eis que retomo
alguns apontamentos de anos, mais precisamente 2016, quando da aquisição e leitura
do livro.
Naquele momento, o
tempo nos parecia interminável - o trabalho, as viagens, os jovens das cidades
que percorríamos, São Carlos, Araraquara, Limeira, enfim, nada nos preocupava
sua brevidade. Almejávamos muitos anos de convivência, a qual nos fora
abreviada abruptamente. E volto ao livro e abstraio:
_ "Esta
é uma história sobre o sentido da vida". (p.12)
E recorro aos meus
grifos, aos meus apontamentos entre as folhas que me encaminham à leitura.
Interessante notar, ao voltar a eles, o significado invertido - hoje temos
noção de algo que não nos advinha naquele instante.
_ "Todos
sentimos saudade do que perdemos. Mas, às vezes, esquecemos o que possuímos
agora". (p.142)
E percebo a saudade
apertar o peito e grito:
_ "Por favor,
faça ser ontem". (p.141)
Hoje grita em mim o
ser dias, meses e ano passados. Quem sabe o percurso do relógio pudesse ser
alterado. Quem sabe colocássemos nosso rosto contra a parede e solicitássemos
por mais tempo... Talvez até o fizemos, mas não fomos ouvido.
Entretanto, a
narrativa do autor me coloca dentro da saudade do que perdi, ao mesmo tempo em
que me remete ao que possuo neste instante e passo a me entregar de corpo e
alma aos meus apontamentos, aqueles que me dão sentido ao tempo presente. Percebo,
então, que o tempo passado me tem sido generoso e
_ "Nunca é
tarde demais nem cedo demais. É quando deve ser. (p.174)
Sim! Nunca é tarde
demais. Meu companheiro de jornada me fora presente durante um tempo
significativo; meu entendimento o requeria mais, mas o distanciamento chega
quando deve chegar e o tempo tem seu curso e seu sentido, assim, penso que ao
me recompor estou a regressar ao ontem, de dias, meses e anos, quando meus
apontamentos eram somente significativos das linhas que me
alcançavam. Agora elas me retornam com significado outro, pois que...
_"É quando
estamos mais sozinhos que abraçamos a solidão alheia". (p. 199)
Quantas vezes,
relendo essa passagem grifada, não pude perceber e compreender a dor de uma
"solidão alheia". As lágrimas derramadas em silêncio, pelo
companheiro que, de tão próximo, eu não podia enxugá-las; até que num leito
branco de UTI hospitalar, uns olhos tão familiares, de um homem prostrado,
inerte, quase sem os movimentos, vertiam translúcidas gotículas brilhantes,
puderam me atentar ao fato e as enxuguei vez ou outra. Agora, entretanto, as
palavras fugidias, requeriam silêncio que silenciava ambos; já se fazia tarde
por demais. Entretanto, são as palavras que tornam a me encontrar e me
envolvem numa serena paz...
_ "Os fins
são para ontem, não para amanhã". (p.207)
Sim... Os fins
justificam os meios; encontrei o fio da meada, pois, enquanto me vi privada de
uma companhia que ficou no ontem, a companhia de minhas releituras e meus
apontamentos para este espaço tão familiar a nós, que o criamos juntos, num
tempo que fora registrado para não se perder no tempo, justificam os meios para
um hoje. E avanço as páginas e elas me repercutem audaciosas...
_"O que estão
todos fazendo?"
_ "Assistindo
as suas lembranças."
_ "Para
quê?"
_"Para se
lembrarem de como é sentir". (p.217)
Eu apenas reforço
meu sentir memorialista - sempre tive bem perto de mim meus momentos memoráveis
para contar e registrar, claro, não tão forte como agora, mas sempre os tive
por perto. Meu companheiro era mais fugaz, não recorria ao passado, ansiava
apartá-lo de si, muito embora, quase que impossível, senão impossível. Meu pai
legou-me essa herança que venho a multiplicar em linhas de memórias tantas.
Sinto latente a necessidade de expor meu sentir interno, para, vez ou outra, a
ele retornar, para poder me compreender cada vez mais.
Sei muito muito bem
que nosso tempo infinito faz com que percebamos a importância vital de nos
relacionarmos de forma a menos conflituosa possível, muito embora, quantas
vezes, atropelamos esse saber, criando situações adversas desnecessárias.
_ "Com o tempo
infinito, nada é especial. Sem perda nem sacrifício, não podemos apreciar o que
temos". (p.218)
As perdas me
acompanham algum tempo, avós, tios, primos, irmão, mãe, pai, recentemente meu
companheiro de belas jornadas. Confesso não imaginar passar por esta
experiência brutal do distanciamento. Julgará ir primeiro, todavia, penso mais
confortável minha permanência, do que o contrário. Da forma como estou a conduzir
minha envelhescência, imagino ser mais tranquila esta jornada, ainda que sinta
enorme saudade e presença da ausência inesperada.
_ "Há uma razão para Deus limitar nossos dias.
_ Qual?
_ É para tornar cada um deles precioso". (p.219)
A partir desse distanciamento que me tem sido tão presente, refaço o
encontro...
_ "... destinos se ligam de modos que não
compreendemos"... (p.223)
Lembro da chegada de Élvio, quantas horas de conversas, quanto aprendizado.
Estes blogs construídos juntos. Leituras compartilhadas. Estudos fundamentados.
Trabalhos realizados. E posso acreditar que o propósito de Deus é bem maior
para conosco. Quando O colocamos em ação é Ele que direciona nossa vida. Sabe a
hora da chegada e da partida.
Quando Deus quer trabalhar, o comando é somente Dele, e não nos cabe
interferir, razão pela qual me sinto a mais produtiva nesses meses que seguiram
o desenlace.
_ "Nunca é tarde demais nem cedo demais". (p.226)
porque...
_ "Não podemos parar o que é escolhido pelos céus". (p.228)
Assim é que ao retornar ao passado tempo, o tempo me proporcionou um presente
confortável entre a releitura de trechos que me foram significativos, naquele e
neste tempo.
E, se o tempo me pede conta do tempo, tenho de dar conta do tempo que tenho em
conta. E sempre encontro tempo para minhas contas, que estou a contar neste
tempo.
Obrigada escritor pelas palavras encorajadoras. Este livro me levou a outros
que serão referenciados aqui:
"As cinco pessoas que você encontra no céu" - inclusive o filme me
fora gratificante tanto quanto a leitura.
"A última grande lição: o sentido da vida" - o qual levado a filme,
está na minha lista por assistir.
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Albom,
Mitch - O guardião do tempo / Mitch Albon [tradução de Lucia
Ribeiro da Silva]; São Paulo: Arqueiro, 2013