por Inajá Martins de Almeida
A aula dessa tarde fora tranquila e repleta de reflexões.
Muitas vezes adentro o horário, compartilho conteúdo, mas o vazio me acompanha sala afora. Não fora o caso nessa tarde, em que numa palestra de um coaching Conrado Adolpho, desconhecido a mim, até então, trouxera linques fantásticos os quais me permitiram ir além do tema - A maior riqueza - nossa mente...
Sempre em mãos um caderno, uma caneta e a mente atenta às anotações - não diferente nessa tarde, eis que algo salta quando a recompor, neste espaço, impressões deixadas pelo autor do tema:
- "Como queremos ser lembrados? O que queremos contar? O que teremos para contar?"
A partir dessa mensagem, dentre outras tantas, instigo o diálogo. A princípio monólogo - eu apenas apontando tópicos a mim significativos.
Silêncio profundo entre os jovens... Em mim um questionar:
- Será que me ouvem? Será que absorveram a palestra? Será que permaneceu algum ponto?
Silêncio ... Apenas silêncio.
Mas não me intimido. Continuo minha fala, até que, algo chama atenção quando trago em cena, minha própria adolescência, anseios, expectativas, dramas, choros, paixões incontidas, silêncios interiores...
Passo a vislumbrar dois universos - presente e passado se mesclam e se encontram em uníssono. Não sou mais a professora que multiplica anos aos anos daqueles que a sua frente silentes se encontram. Agora mesclo meus anos, aos anos deles e formamos um só bloco.
Eu na minha envelhescência, eles na adolescência...
O que nos diferencia?
Percebo que apenas os anos de experiências acumuladas, as oportunidades, as decisões, as buscas, as conquistas, os sucessos e os fracassos, tornam obscuras a distância, que aos pouco se encurtam e se aclaram.
Podemos entender que os anseios, os desejos, os medos e até a época presente que compartilhamos, não detém diferença alguma.
A partir desse momento passamos a dialogar num mesmo patamar, num mesmo nível, num mesmo diapasão.
Os jovens podem se abrir ao ouvido que presta atenção ao ponto de tentar entender uma geração que, há muitos, perdida...
Não vejo, esses jovens a minha frente, como uma geração "aborrescente", "perdida", muito embora, quantas vezes os tenho nessa mira, mas hoje, excepcionalmente hoje, pude expressar abertamente que ali há uma elite de jovens que, embora de classe social vulnerável, estudam, trabalham, buscam se diferenciar. Jovens escolhidos. Adolescentes aprendizes que tem muito a dizer e se destacar no cenário pessoal, profissional e social...
E não percebemos o tempo passar e, se o relógio deixasse de registrar seu compasso, avançaríamos em diálogo.
A noite, em meu quarto de estudo encontro respostas às minhas indagações.
Videos me encontram. Profissionais me falam na tela e passo a dialogar com autores vários. É quando Mauro esboça e eu registro que:
"a escrita nada mais é do que você conversar com o autor; é você estar sozinha com o autor... Estudar é um privilégio e que a leitura é para amadurecer, crescer e vivenciar... - é uma vida."
Assim, sozinha comigo mesma, tendo como pano de fundo o computador e os vídeos a nós disponíveis, dialogo com o autor que há pouco conhecera e ele vai além em sua dissertação e vasto conhecimento acumulado em tão pouco tempo - Mauro é muito jovem ainda - quando apresenta e deixa em aberto um novo tópico "a beleza do estudo".
Aqui volto ao meu companheiro e rememoro suas máximas, quando dizia, escrevia e registrava que - "Estudo - és tudo".
Sim... Estudo és tudo. É agregar ser ao ter do conhecimento adquirido.
E acrescenta ainda o conferencista Mauro:
- "Quem lê e quem escreve, de uma certa forma convida ao estudo. O escritor que tem medo de estudar é um péssimo escritor. Que a escrita é um sacerdócio a qual a gente apresenta diante da eternidade do próprio ser", seguindo um gancho de Tomaz de Aquino.
A partir daí, pude me encontrar escritora. Pude me perceber que o estudo me acompanhou e me acompanha. Que não passo despercebidamente ante uma palestra, um livro, um contato pessoal, sem meu caderno de anotações ou, minha própria mente.
Assim é que, junto aos jovens sou a professora, aquela que professa transmitir conhecimento acumulado pelos anos. No meu quarto de estudo, sou a Inajá que entre livros nasci, entre livros me criei, entre livros me formei... Agora, busco entre livros me tornar.
E como quero ser reconhecida? Como quero ser lembrada?
Além de gritar em mim - "Filhas da História" - que o jornalista Lucas Neri nos agraciou, a mim e a prima Matilde, quando da edição do Álbum Histórico sobre as Bandas de Araras, autoria de meu pai Nelson Martins de Almeida, em co-autoria nossa, quero frisar que o livro agora sou eu, porque agora também sou uma ESCRITORA...
A tarde e a noite dessa segunda-feira 18 de março de 2018, o final de semana que o antecedeu entre novos encontros através de vídeos/aulas, puderam me levar ao encontro com novos personagens que permearam estas linhas e que me trouxeram, de uma forma responsável, respostas às minhas habilidades. Enredaram-me à responsabilidade.
Que a nossa moeda é o tempo que dedicamos ao nosso preparo.
Que a vida é como um trem em que na primeira estação muitos sobem e lotam seus vagões, mas que a cada estação, a cada parada quantos descem e se deixam permanecer nos locais, quer por necessidade, quer por acomodação, quer por falta de opção, quem sabe as razões...
O trem sempre me fora significativo, agora, nessa metáfora sigo minhas estações sem limite de parar...
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links que me motivaram as linhas
A escrita é sem dúvida a
via mais direta que permite colocar em cena as fantasias humanas. Todavia, o
trabalho realizado sobre a linguagem, introduz uma dimensão suplementar e reunificadora
na construção desta fantasia inconsciente que opera tanto na cura terapêutica
quanto na própria escrita criativa. A eficácia da operação que realiza a
escrita reside em que a fantasia não se afaste tanto do conteúdo da mensagem e
de seu ancoramento real com o concreto da vida, o que faz do escritor, aquele
que por vocação, suplantar e aportar soluções aos impasses de seus desejos.
Se para o escritor a letra é equivalente a um
sintoma clínico, cujo sujeito sofre seus efeitos até que seja restaurado pelo
ato terapêutico, o ato de escrever poderá restaurar, pelo viés da letra, a
substituição do sofrimento por bordeá-lo e assim separá-lo de seu próprio ser,
que diante deste novo objeto manufaturado, poderá então afastar-se dele
voluntariamente. Assim, a escrita pode conduzir ao melhor daquilo que se pode
esperar do fim de um processo terapêutico.
Afim de comentar estas
verdades unificadoras da alma humana, o escritor e editor de livros Sandro Bier
convidou o psicanalista, professor e também escritor Mauro A. J. Muniz para uma
conversa destas e outras temáticas que gravitam o ato de escrever e a
literatura.