Amo
Monteiro Lobato. Com ele nos aventurávamos em seu Sítio, juntamente com seus
personagens: primeiro através das páginas dos livros, depois nas telas em preto
e branco e a cores, com o passar, embora já adultos, ele continuava fascinando,
com suas histórias instigantes. Emília símbolo da irreverência e
rebeldia. Que bom que ele estivesse farto da escrita para marmanjos:
"Ando
com idéias de entrar para esse caminho: livros para crianças. De escrever para
marmanjos já me enjoei. Bichos sem graça! Mas, para crianças, um livro é todo
um mundo... Tenho em composição um livro absolutamente original - Reinações de
Narizinho -... Estou gostando tanto, que brigarei com quem não gostar.
Estupendo Rangel! E os novos livros que tenho na cabeça são ainda mais
originais. Vou fazer um verdadeiro rocambole infantil, coisa que não acaba
mais".
Em
outro trecho fala de descaso por aqueles que serão o futuro desta nação:
"Uma
coisa sempre me horrorizou: foi ver o descaso brasileiro pela criança, isto é,
por si mesmo, visto como a criança não passa de nossa projeção para o
futuro...".
Seus
textos são atualíssimos, tanto que:
"Fala-se
em Pátria, hoje mais do que nunca. Jamais o dispêndio de hinos, versos,
conferências, artigos, livros, boletine e discuros foi maior. Mas, no fundo de
tudo isso, está a retórica vã, a mentira, a ignorância das verdadeiras
necessidades do país. Programa patriótico, e mais que patriótico, humano, só há
um: sanear o Brasil".
Eram
cartas trocadas nas primeiras décadas do século XX, mas que nos parecem muito
familiares aos descasos que ainda vemos em nossos dias. Seus questionamentos,
seus alertas quanto a educação ideal leva-o a conclusão de que:
"...
antes de reformarem qualquer coisa ou proporem reformas, os mais adiantados e
ilustres líderes educacionais do momento o que devem fazer é reformarem-se a si
próprios, isto é aposentarem-se e saírem do caminho" (págs 53/54).
"Ah! parece que se chega afinal ao começo... 436 anos para se chegar ao
princípio, 436 anos de pré-história... "
É
o desabafa Anísio Teixeira à Lobato, nas correspondências trocadas e
registradas nas cinquenta e cinco páginas deste livro, profundo estudo em que
Cassiano Nunes, poeta, teatrólogo e ensaísta, considerado por Mariza Lajolo
"o nosso maior lobatólogo", a nós disponibiliza.
Posso
concluir também minha indignação pelo desrespeito a natureza, as crianças, aos
velhos, a educação - enfim a nós como brasileiros, mas também me consolo,
quando leio e transcrevo o que nos fala o autor no referido livro
"essas
palavras de velhas cartas, afortunadamente conservados, plenas de sonho, paixão
e indignação, nos revelam que não estão sós aqueles que, no Brasil, se acham
determinados a criar uma pátria melhor, em que a educação substitua o
primitivismo e o atraso..."
.
É
gratificante pensarmos num Lobato que é nosso; que segundo Godofredo Rangel:
"sabia dizer as coisas próprias de um modo
próprio, encarando a vida e as coisas de um modo pessoal".
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Nunes,
Cassiano. Monteiro Lobato: o editor do Brasil / Cassiano Nunes.
- Rio de Janeiro: Contraponto: Petrobras, 2000. 56 p.
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